Sem poesia, a vida seria a morte.


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sinto agora mesmo o coração batendo desordenadamente dentro do peito. ...O mar apaga os traços das ondas na areia. Oh Deus, como estou sendo feliz. O que estraga a felicidade é o medo. Fico com medo. Mas o coração bate.

Clarice Lispector em Água Viva, pg 66-67
Uma dor estranha e desconhecida retorna
numa noite clara, o sorriso da lua guia um ser ferido
que volta cego de seu exílio

chega de mãos secas
de onde nunca foi bem vindo

Uma dor que me reabre
a carne morna
remove meus ossos frágeis
e anoitece (de novo) meus olhos sem luz.

é meu coração, de volta ao peito.

CQ

terça-feira, 29 de novembro de 2011

O mar de manhã

E prometi que ela viria em casa para entrarmos no mar às seis horas da manhã. Por que? Porque é a hora da grande solidão do mar.
...às seis horas da manhã as espumas são mais brancas. 

Clarice, minha Clarice, a Lispector de todos
em Aprendendo a Viver, pg 83


foto: Claudia Quintana

Eu gosto de pouca coisa em você.
Da música
Do coração
Do silêncio.

Enfim, Tudo.
CQ

imagem: Claudia Quintana

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Todos são portadores da felicidade. 
Uma pena notar que boa parte da humanidade ainda é assintomática. 


CQ

domingo, 27 de novembro de 2011


Na ausência da lua, a paz da noite desce e sobe o sonho.
As dores se vão para seus lugares
certos.

Dor doendo feito poesia de dedos que não sabem mais ler.

CQ

Imagem: Gustav Klimt
dos teus olhos eu quero o medo de todos os desfiladeiros 
e o amor de morar dentro do abraço deles.

Imagem: Gustav Klimt
Faz sol. faz chuva, faz sol, faz chuva.
E o pensamento fica perdido do lado de dentro. Gosto.

CQ
Tomando chuva na Pedroso Alvarenga, pensando vagueantemente: 
Alguns acham que o trabalho dará. 
Outros pensam que o destino dará. 
Ainda tem aqueles que acreditam que só um outro alguém dará. 
Eu escolhi me deixar tudo ao "Deus dará" 

Está dando tudo mais certo assim.
(pelo menos do lado de dentro da vida)
...adoro tomar chuva.

sábado, 26 de novembro de 2011


Dar-se enfim

O prazer é abrir as mãos e deixar escorrer sem avareza o vazio-pleno que se estava encarniçadamente prendendo. E de súbito o sobressalto: ah, abri as mãos e o coração, e não estou perdendo nada! E o susto: acorde, pois há o perigo do coração estar livre! Até que se percebe que nesse espraiar-se está o prazer muito perigoso de ser. Mas vem uma segurança estranha: sempre ter-se-á o que gastar. Não ter pois avareza com este vazio-pleno: gastá-lo. 

Clarice, (a minha) Lispector
em Aprendendo a Viver, pg 78

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos, coubera arrancar de seu coração a flecha farpada. De chofre explicava-se para que eu nascera com mão dura, e para que eu nascera sem nojo da dor. Para que te servem essas unhas longas? Para te arranhar de morte e para arrancar os teus espinhos mortais, responde o lobo do homem. Para que te serve essa cruel boca de fome? Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já que tenho que te doer, eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada. 


Para que te servem essas mãos que ardem e prendem? Para ficarmos de mãos dadas, pois preciso tanto, tanto, tanto - uivaram os lobos e olharam intimidados as próprias garras antes de se aconchegarem um no outro para amar e dormir. 

Clarice, a Lispector em Felicidade Clandestina
E eu pensava que tinha de esperar o Tempo, mas descobri que é o Tempo que me espera.
Tempo-Mãe-Pai, que espera meu ar virar pensamento e se transformar em mim,
num tempo-paciente, que me gesta.


Tenho todo o tempo do mundo para ser toda mundo.

CQ

Imagem: Leni de Almeida Leitão
Poesia mais perfeita: a palavra.

CQ

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

terça-feira, 22 de novembro de 2011


desejos
silêncios
medos
marcados na pele

desaparecendo entre linhas
na fusão das letras. CQ

segunda-feira, 21 de novembro de 2011


A Manuel Bandeira 
Quando eu estiver mais triste
mas triste de não ter jeito,
quando atormentados morcegos
 um no cérebro outro no peito –
me apunhalarem de asas
e me cobrirem de cinza,
vem ensaiando de leve
leve linguagem de flores.
Traze-me a cor arroxeada
daquela montanha – lembra?
que cantaste num poema.
Traze-me um pouco de mar
ensaiando-se em acalanto
na líquida ternura
que tanto já me embalou.


Meu velho poeta canta
um canto que me adormeça
nem que seja de mentira.


Olga Savary
Se pudesse, me escreveria assim como sou
Tonta, atordoada nas letras dos meus dias
em vertigem de existir ao teu modo de me ler.

CQ


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Na parede da memória, os quadros ficam mais bonitos.
Cesar Bortoluzo




Foto: Meu diploma pelas mãos do maior médico que eu já conheci. 
Professor Zerbini, grata por me entregar a coisa mais importante que eu já conquistei na minha vida. Dez, 1992.
Tem dia que dá uma vontade infantil de por todos os problemas numa linda caixa de porcelana e acomodar direitinho no alto da estante mais alta.
Problemas decorativos, 
arquiváveis. 
Disponíveis apenas para consulta com agendamento. 


Era o que eu queria e precisava. 

CQ


Foto: Biblioteca do Castelo em a Bela e a Fera

terça-feira, 15 de novembro de 2011

E lá se foi uma pequena terça feliz, 
vestida de domingo com guarda-chuva. 



CQ
D'us nunca puxa o tapete. Nos tombos que a vida provoca, Ele aproveita para deixar que a gente olhe nosso caminho bem de perto só para ter certeza de que é este mesmo o chão que a gente quer pisar. Ou beijar. 


CQ


Foto: Henri Cartier Bresson

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

E eis que depois de uma tarde de "quem sou eu" e de acordar à uma hora da madrugada em desespero. Eis que às três horas da madrugada acordei e me encontrei.
Fui ao encontro de mim. Calma, alegre, plenitude sem fulminação.
Simplesmente, eu sou eu, você é você. É livre, é vasto, vai durar.

Eu não sei muito bem o que vou fazer em seguida mas, por enquanto, olha pra mim, e me ama!
Não! Tu olhas pra ti e te amas.
É o que está certo.


Clarice, a Lispector

domingo, 13 de novembro de 2011

As coisas têm peso, massa, volume, tamanho, tempo, forma, cor, posição, textura, du-ração, densidade, cheiro, valor, consistência, pro-fundi-dade, contorno, temperatura, função, aparência, preço, des-tino, idade, sentido.

As coisas não têm paz.

Arnaldo Antunes
Foto - RJ - Rocinha hoje de madrugada - Folha Uol

Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente.

Clarice, a Lispector
Imagem: au hasard balthazar bresson

sábado, 12 de novembro de 2011

Para meu coração basta teu peito
para tua liberdade bastam minhas asas.

Pablo Neruda
Uma Rosa, do Guimarães;

Tudo, aliás, é a ponta de um mistério, inclusive os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

‎"Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir."

Cora Coralina


No espaço criado, abandonado o espaço vazio se ocupa.
Nos tempos juntos divididos, os tempos sós se multiplicam.

Vida agora vazia, de espaços, de tempos, de vida.
Mas ainda cheia de sonhos de rever o mar. CQ

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.

Cecilia Meireles




quarta-feira, 2 de novembro de 2011

se tivesse de escolher, acho que ficaria em dúvida num momento final..
se seria leal pedir que não me esqueças..
ou se seria cruel pedir que eu te esqueça..

E que seja a lua que responda sobre os motivos que choro
meus verbos, meus versos, meus cantos
escuros. CQ

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Alguma poesia que me salve




Inquietude


Esse olhar inquisitivo que me dirige às vezes nosso próprio cão...

Que quer ele saber que eu não sei responder?

Sou desse jeito...

Vivo cercado de interrogações.

Dinheiro que eu tenha, como vou gastá-lo?

E como fazer para que não me esqueças?

(ou eu não te esqueça...)


Sinto-me assim, sem motivo algum,

Como alguém que estivesse comendo uma empada de camarão

sem camarões



Num velório sem defunto...


Mario Quintana