Sem poesia, a vida seria a morte.


sexta-feira, 8 de março de 2024

domingo, 16 de fevereiro de 2020

O dia passa da metade,
o sol nem se importa 
sa realidade merece 
ou não ser interessante. 
O melhor dos dias 
extraordinários 
é o que acontece nas 
ordinárias horas 
que se passam 
dentro deles.

ACQA

sábado, 5 de janeiro de 2019

sem costume

Não nos acostumemos com a dor.

A dor de acostumar-se ao sofrimento. 

O sofrimento de acostumar-se com o medo.

O medo de acostumar-se com a impotência.

A impotência, o não poder..

O não poder acostumar-se a ser menos.

A ser menos do que se pode ser

ACQA 
para a X turma da Casa do Cuidar - 2018

domingo, 4 de outubro de 2015

A princesa e o dono do mar


Um dia se cansou de procurar. Passou muito tempo com o olhar perdido, perto e longe, aqui e lá, dentro e fora. Cada vez que encontrou, viu em todos desencontros. Princesa estranha essa. Tinha um jeito de salvar príncipes que passavam distraídos pela torre. Descia as escadas de seu templo, estreitas e intermináveis e os alcançava perto de serem devorados pelo dragão. Sim, havia por ali um dragão. De fogo e de terra ele destemido, protegia a princesa de si mesma. Mas a princesa insistia em salvar príncipes desencantados. Arrebatava e dominava o dragão (não o mataria jamais) e colocando o pobre príncipe cansado em seus ombros, subia a escadaria da torre e feliz, oferecia seus aposentos ao novo convidado. Mas era pequeno, muito pequeno o espaço que ocupavam. E ela, princesa guerreira se ressentia de ter tanto a oferecer e o príncipe salvo precisar de tão pouco. E aí mantinha seu hóspede que, muitas vezes esquecido de tanto espaço, desaparecia dentro de seus sonhos. E ela precisava da compaixão para suportar sua falta, seu espaço vazio, infinito.
Mas num dia desses ensolarados, sua dor era maior e decidiu ter compaixão de si mesma. Fechou suas janelas e parou de procurar. Desceu seu último desencontrado-quase-príncipe até embaixo e o entregou ao seu dragão. O dragão era seu medo e ela sabia que seu medo o devoraria. Diante da dor decidiu com seu coração: serei encontrada aqui em minha montanha. Quero o mar, mas ele virá até mim. Seu maior temor era de abrir a porta e o mar a inundasse. Por isso percebeu que preferia aconchegar-se e esperar por seu medo, corajosa. Mas agora, de janelas fechadas, sabia que não teria como fugir desse encontro. Todas as suas noites a partir de então, o medo a beijava levemente e sussurrava aos ouvidos com voz suave da morte: sou seu, me tome e me devore. E ela encolhida num canto da cama, procurava cega pela luz que saciaria seu algoz. No vento que chorava pelas frestas da janela fechada, morava o choro de seu medo. E o temporal que balançava a torre, tremia o coração da princesa. Cheia de espaço, plena de si mesma, ocupava tudo ao seu redor e a falta, uma ausência, que presente se ocupava de seu tempo, de seu templo. Pelo temporal que chegava, tudo dentro da torre se movia e dançava no ar. E agora num estranhamento de si mesma, a princesa voava junto com sua mobília. Caos e desordem, o acaso trouxe a chuva. Naquela dança sobre o ar, a princesa já havia esquecido a sua pergunta do seu medo. Sim, um medo sempre tem um pergunta. E a pergunta teme ser encontrada por uma resposta que arrebate sua vida e termine com seu destino. A princesa havia se esquecido de quase tudo. De suas perguntas, de seu medo, das janelas fechadas. Só a porta fechada era uma presença. A presença da falta de uma chave que a pudesse tirar dali. Olhava a porta como uma pergunta vazia. Já nem se lembrava mesmo porque o vento chorava e nem porque deveriam existir temporais. Adormeceu cansada de seu destino e sonhou um sonho em que a morte chegaria e seria sua chance de libertar a si mesma. Assim iria embora sem saber do que tinha ainda para viver. E sabia que ainda era tanto, mas não era nada e tudo o que restava ao sonho era uma saudade daquilo que ainda não poderia viver. Naquela noite apareceu-lhe um anjo. Trouxe na lua e nas estrelas a sua mensagem: a chave seria entregue e ela deveria permanecer desperta. Ainda sem acordar achou que deveria se apaixonar pelo anjo, mas suas mãos estavam vazias e frias. E o tempo passou. Na espera nasceu a prece. E a princesa em sua prece aceitava seu destino de céu ocupado pela falta do sol. Em sua prece aceitava tudo, pois foi além de sua dor, de sua espera, de sua falta e de sua ausência. Ainda anoitecendo, numa penumbra de si mesma, entregou-se na sua prece de amor. Na chuva, o tamborilar das gotas confundiam um som perfumado que veio da porta.
E no dia seguinte, depois de muitas outras noites incontadas, amanheceu um novo dia de temporal. Um dia misterioso era aquele, com uma cor de chave rara, um cheiro de ar fresco e molhado que vinha da porta. No olhar, um beijo se fez em amor. O amor fez o tempo parar e o relógio distraído, se deixou encantar com aquele encontro.
Então, lentamente, depois de mil lágrimas, um milagre: a porta se abriu. A prece chegou com sua a chave nos olhos de um príncipe-oração que a toma em sua sede. A porta se abre pelas mãos do homem dono do mar, a princesa se entrega em seus braços. E tomada do amor de seu homem feito de mar, cheia de sua água, a princesa entrou em si mesma.

Claudia Quintana
No avesso de um carinho 
sonho que teus cabelos acariciam meus dedos 
encosto meu peito nos teus ouvidos
e teu coracão me conta, marejado de amor.

é no alto da noite que a tristeza mais silenciosa vai chegar hoje,
a saudade me despertará.
De qualquer lado que eu viva hoje,
o outro adormecerá vazio.

CQ

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Lua que salva flores,
doce é a vossa e a minha paz hoje.

Hoje sou eu a melodia que te ilumina.
Lua, és só a mais atenta testemunha de tudo o que sabe me conter assim,

infinita.

CQ

domingo, 21 de junho de 2015

Nas minhas pernas, as tuas asas abrem
Nos meus olhos, os teus abismos caem.
Nas minhas palavras, os teus versos choram.

Em todos os sonhos te devolvo o meu primeiro beijo. 

CQ